Um estudo da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal do Maranhão apontou evidências de que a microcefalia já era uma doença em crescimento no Brasil antes do surto do vírus da zika em 2015.

Ao analisar bebês nascidos em Ribeirão Preto (SP) e São Luís (MA) em 2010, os pesquisadores levantaram indícios de que a malformação craniana também está associada a fatores como o consumo de álcool e de cigarro na gravidez, e que parte dos casos pode não ter sido notificada pelas autoridades brasileiras nos últimos anos.

Isso é o principal que podemos discutir daqui pra frente: olhar com mais sensibilidade científica e de curiosidade para perceber que estavam tendo esses problemas e estavam relegados, não estavam tendo importância. Precisou ter um desastre da zika para que se percebesse que se tratava de um grande problema de saúde pública , afirma Marco Antônio Barbieri, coordenador da pesquisa e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP).

Em nota, o Ministério da Saúde informou que, antes do surto de zika, os registros de microcefalia já eram feitos pelo Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos (SINASC), mas que, até 2014, referiam-se apenas a casos graves, diferente do padrão adotado pela pesquisa.

Entre 2000 e 2017, de acordo com dados do Sinasc enviados pelo ministério, foram registrados no país 6.694 bebês nascidos com microcefalia, dos quais 4.224 se concentraram entre 2015 e 2017.

Também divulgadas ao G1 pela pasta, informações do Sistema de Informações Sobre Mortalidade (Sim) dão conta de que, nos mesmos 18 anos, 1.949 crianças morreram com a malformação, das quais 445 foram entre 2015 e 2017.

O estudo

Ao todo, os pesquisadores da USP e da UFMA avaliaram 10,3 mil crianças nascidas em Ribeirão Preto e São Luís e evidenciaram um índice acima do esperado de bebês com crânio reduzido.

As taxas foram respectivamente de 2,5% e 3,5%, diante de uma incidência máxima de 2,3% utilizada como parâmetro internacional, segundo Barbieri. O risco de nascer com microcefalia foi maior em Ribeirão do que o esperado e maior ainda em São Luís.

O professor estima que, em média, a cada 10 mil bebês nascidos, 290 tinham características de microcefalia e podem não ter sido diagnosticados corretamente.

Além da zika, a malformação, segundo ele, está associada a fatores sociais, reprodutivos, demográficos e de estilo de vida.

Entre eles estão descuidos do período pré-natal, como o consumo de álcool e cigarro na gravidez, as condições do atendimento e da realização do parto, além de infecções causadas por doenças como sífilis congênita e,rubéola.

É importante que se tenha atenção a esse grupo grande de variáveis que podem contribuir para aparecer problemas desagradáveis pro resto da vida do ser humano , afirma Barbieri.

Publicadas na Pediatric Official Journal, periódico da Academia Americana de Pediatria, as conclusões sobre Ribeirão Preto e São Luís podem ser expandidas para o âmbito nacional e reforçam a necessidade de se atuar na prevenção da microcefalia, segundo o pesquisador.

Têm fatores patológicos que estão interferindo e levando a uma endemia de microcefalia e microcefalia grave nessas duas cidades e, portanto, pode ser extrapolado para o Brasil.

* Via G1

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